A carruagem que levaria para a Itália a artesã Jucélia Lima da Silva, 35 anos, virou abóbora. E, pelo visto, a Cinderela de Itaberaba tem vocação mesmo é para Pinóquio. Há 20 dias, Jucélia saiu do anonimato ao afirmar que estava prestes a receber uma herança milionária de um empresário italiano que sofria de uma doença terminal. Tudo mentira. O castelo dela caiu.
O roteiro da farsa era cheio de detalhes. Jucélia contou que conheceu o empresário, Germano, numa viagem de avião para a Europa e o convenceu a abandonar a ideia de se matar. Além disso, recusou um colar de esmeraldas como presente, o que fez com que ele se encantasse com a simplicidade da itaberabense.
Jucélia afirmava que os dois se perderam no desembarque em Milão. Disposto a deixar toda a sua fortuna para a baiana, Germano contratou um amigo detetive para encontrá-la. O detetive passou então a se corresponder com Jucélia pela internet.
Antes, porém, contactou o fotógrafo Adson Chan, amigo de Jucélia, que confirmou tudo com a artesã e sugeriu a pauta ao CORREIO. Em princípio, apesar de fantástico, o fato parecia convincente. Mas, depois de surgirem algumas denúncias, Jucélia foi desmascarada. A principal prova de que a artesã havia inventado tudo partiu do técnico de informática Fernando Rodrigues, que também é dono do site Itaberaba Notícias.
Desconfiado com as mensagens do detetive no Facebook, o técnico apurou que o IP (Internet Protocol) do computador de onde partiam as mensagens do investigador era da mesma faixa de IPs de outros usuários de Itaberaba, ou seja, eles usavam o mesmo provedor de conexões. “Se o detetive era italiano e morava em São Paulo, como é que ele mandava mensagens de Itaberaba? Além disso, muitas vezes o IP do detetive era o mesmo de Jucélia. Ela é o detetive”, afirma Rodrigues.
Descoberto que Jucélia era o detetive e, ao mesmo tempo, o italiano, veio a segunda evidência. Na cidade, havia o burburinho de que a artesã já tinha dado golpe semelhante anos atrás. Veio então à tona uma reportagem do jornal A Tarde, de 18 de outubro de 2000, onde Jucélia tratava de uma herança que precisaria resgatar na Espanha.
Na matéria, o jornalista José Bonfim descreve um enredo parecido com o que Jucélia conta agora. Apesar de trocar os países, em 2000 Jucélia dizia que tinha um padrinho naturalizado espanhol acionista de uma multinacional.
Segundo Jucélia, jornais italianos já haviam publicado a história. O CORREIO contactou pelo menos dois diários de Brescia, onde ela disse que morava o italiano, mas ambos negaram conhecer o fato. Na quinta, Jucélia ligou para o CORREIO. Com voz triste, contou que o detetive havia informado que Germano tinha morrido. E, acrescentou, Germano morreu sem saber que ela havia sido localizada. A farsa tinha início, meio e fim.
Mesmo com todas as evidências de que a história é pura fantasia, Jucélia resolveu manter a mentira. Ao CORREIO, disse ontem estar triste com as acusações. “Fico muito triste de você não acreditar mais em mim. Germano existe e morreu quinta-feira. Eu sou uma mulher que tenho compromisso com a verdade”. Sobre a história que contou mais de 11 anos atrás, ela disse que foi vítima de um golpe, mas não explicou de que golpe se tratava.
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